António Fontinha era um contador de histórias, a quem contaram histórias antes de adormecer. "(...) Durante muito tempo ele lembrou-se dessas histórias e durante muito tempo esqueceu-as, como fazem as pessoas quando acham que chegam a adultos".
Eu, só quero deixar aqui as minhas histórias, de ontem, de hoje e, quem sabe, de amanhã.

09 agosto 2006

Noite na Terra

Subiram vales e montes, desceram pela estrada esburacada e ainda empoeirada pelos camiões que por ali circulam durante o dia, que saem carregados de terra e pedras, onde um dia vai surgir um novo espaço verde, onde as crianças vão poder brincar à vontade, longe da estrada, longe da confusão, mas perto do olhar atento dos avós e também dos olhares indiscretos dos vizinhos, que nem fazem por esconder o olhar de esguelha com que tentam perceber quem tem roupa nova, quem foi ao cabeleireiro e quem se dá com quem, para a seguir poderem minar este campo de intrigas e desavenças.
Desceram e foram dar a uma estrada secundária. Era de noite e tinham de circular com cuidado. Não havia vivalma àquela hora. Rumaram pela estrada principal, fizeram um pequeno desvio e voltaram a subir. A respiração estava cada vez mais rápida, mas não pararam um instante que fosse. À medida que avançavam para o centro, as pessoas tinham saído à rua, o calor dentro de casa torna o ar irrespirável, e as esplanadas estavam animadas. Continuaram a descer e, a acompanhar o fretenir das cigarras, só se ouvia o chiar dos pneus enquanto travava, ainda a medo, a sua bicicleta nova.
A volta nocturna estava feita. Voltaram a casa, refrescaram-se e envolveram-se nos braços um do outro, apesar do calor, até a manhã raiar.

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