Ela nem queria acreditar. Depois de no dia anterior velhas recordações, muito presentes, em demasiadas vezes, certamente mais que as desejadas, a terem deixado completamente fora de si, hoje era o seu perfume que pairava sobre o ar, misturando-se com o cheiro adocicado das pipocas, como que a relembrar-lhe que era um novo dia, mas que os sentimentos da véspera ainda estavam ali, e bem despertos. Ficou completamente inebriada, desconcentrada, o olhar perscrutava em volta, e mesmo no escuro ela sabia que era impossível ele estar ali. Mas, e se...? Não, essa não era uma possibilidade. Os seus sentidos estavam a traí-la, não podia ser, afinal ele já tinha deixado de fazer parte da sua vida. Aliás, nunca chegou a fazer.
No dia anterior, tal como aconteceu em tantas outras vezes, era sexta-feira e já se sentia a liberdade do fim-de-semana. Os corpos transmitiam novos sinais, a troca de olhares sem que ninguém percebesse que aquilo era muito mais que um simples caso de amizade intensificava-se, faziam-se programas para uma escapadela, nem que fosse só com a mente, arma tão forte e destabilizadora. Nada fazia prever que aquele seria o rumo, não naquele dia, não àquela hora e muito menos naquele local, ali tão perto, à distância da simples vontade da loucura. As condições voltavam a estar todas reunidas, mas ela sabia que não podia ceder. Não era a primeira vez, outras houve em que ela própria criou as condições, mas agora era diferente. Tudo mudou. Ou não?
António Fontinha era um contador de histórias, a quem contaram histórias antes de adormecer. "(...) Durante muito tempo ele lembrou-se dessas histórias e durante muito tempo esqueceu-as, como fazem as pessoas quando acham que chegam a adultos".
Eu, só quero deixar aqui as minhas histórias, de ontem, de hoje e, quem sabe, de amanhã.
04 março 2007
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